quinta-feira, 5 de maio de 2011

Solidão

A estrada estava deserta. Um sol escaldante. Eram três horas da tarde e eu estava longe de qualquer lugar conhecido. Não vi nenhum carro, ônibus, caminhão ou bicicleta passar. Não havia casas ao redor.
            Eu caminhava já há cinco horas, a água já havia acabado faz tempo. Estava com sede. Só podia caminhar com esperança de chegar logo a algum lugar.
            Ainda me pergunto como vim parar aqui. Acordei no meio da estrada sem me lembrar nada da noite anterior. A cabeça doía. E meu corpo parecia moído.
            O entorpecimento era forte por causa do calor e pela dor que minha garganta reverberava para meu cérebro. Pouco a pouco a noite caía e a temperatura amenizava, mas a secura de meu corpo era estonteante.
            A lua parecia desfocada, já não sentia mais o chão, o gosto ferruginoso já não povoava minha boca, o cheiro de terra e poeira havia desaparecido. A única coisa que permanecia igual era o som, já não o ouvia desde a manhã, quando acordei naquela imensidão.
            Eu precisava de água. Precisava bebê-la para poder começar a raciocinar, contudo não consegui me mover e adormeci.

            Os sonhos eram aterrorizantes. Minha mente trabalhava de forma assustadora e desconexa. Turbilhões de imagens eram regurgitados na minha cabeça.
            Repentinamente acordo tossindo ininterruptamente, o meu colchão estava sem lençol, o guarda-roupa estava ao chão, objetos espalhados pelo quarto.
            Levanto da cama, vou a cozinha a tudo está em perfeito estado e em seu devido lugar. A confusão paira em mim. Minha primeira reação é abrir a geladeira, pegar a garrafa d’água e despejar em minha boca. Ouço um urro altíssimo e a dor me derruba.
            Minha garganta está inchada e doendo ao extremo. Pego meu celular e ele não dá sinal. Fui olhar o notebook, estou sem internet. Ligo a TV e nenhuma imagem é formada. Neste momento me dou conta de que a água que bebi estava quente.
            Sentei na poltrona e fiquei absorto por longo tempo sem saber em que pensar. O desespero ia tomando corpo porque eu não entendia nada do que estava acontecendo.
            Tento sair de casa, mas a chave não abre a porta e meu apartamento não possui janelas. Insisto em abrir a porta com a chave e acabo a quebrando. Agora tenho raiva além de desespero. Chuto a porta, grito, esmurro e nenhum som.
            O eco de meus pensamentos é cada vez mais inebriante, a solidão me corrói e o peso da loucura é imenso. O tempo vai passando e ninguém aparece. O conformismo é maior, as pálpebras pesam e ruídos aterrorizantes se iniciam.
(Igor Rios).

Um comentário:

  1. Eu adoro as coisas que você escreve! Volta a publicar, Igor, por favor!

    ResponderExcluir