quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Essência


E ai, eu me questiono:
Qual seria o sentido disto?
Seria a velha implicância cartesiana, que insiste em materializar, mastigar e massificar?
Não, assim não consigo achar o sentido
Não estou vendo com os olhos certos
Talvez deva ser assim mesmo
Deve ser coisa pra se sentir

"Olhe com o coração", diria o sábio
"O essencial é invisível aos olhos", diria qualquer príncipe

Me contento em apenas sentir o mundo
Ver com os olhos da percepção
Porque aí fico mais perto de me achar
Descobrir onde piso, e quem caminha comigo
Descobrir o mundo que tenho e o que preciso
Descobrir os pequenos detalhes e sua beleza, digo

Encontrar nesses grãos a sequência
E nos devaneios, a essência.

(Mr. Sand-Loei)


http://eudanielramos.tumblr.com/


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Serenata ao avesso

Da calçada molhada
Ouço uma música sair pela janela
Um saxofone faz do sopro uma canção
E da calçada espero
Como quem faz uma serenata
Que venha alguém láde dentro
Debruçar na janela
E como em uma novela
Por mim se apaixonar

Uma serenata ao avesso
Uma confusa serenata
O músico está lá dentro e, tímido,
Não quer se apresentar
Enquanto na chuva na rua
Meu olhar levantado procura
Com seu gesto atencioso
Encantar o saxofonista
Como quem faz uma serenata.

(Fernanda Sabrina Siqueira Campos - 2010)
Contagem - MG

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Andanças

Por cidades, povoados e vilas
cortando de sul a norte
a escala infinita
do tempo.
Na cabeça o pensamento,
saudade dentro do peito,
no céu um mundo de estrelas
cantado aos sopros do vento.
A vida é poeira
nesse grande picadeiro,
mistérios de sul a norte
e de janeiro a janeiro.



(Ygor Sas) 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Menino


Tua casca clara
E teu interior obscuro
Confundem quem vê
Algo que parece único
Tuas grandes e gulosas Luas
São lupas invisíveis
E tua sina sempre fora (e sempre será)
Sentir fome pelos olhos.
Teu defeito é não saber separar paixões e loucuras
De sua própria vida.

(Mike Rodrigues)

terça-feira, 26 de junho de 2012


Sou fruto do ilógico, do irracional, do irreal, do utópico. Sou o bagaço mastigado e atirado ao lixo. Não tenho nenhum respeito pelo sou, pelo que penso e pelo que sinto. Sobrevivo a mim mesma, odiando a cada olhar matinal no espelho embaçado. Quero o escuro do quarto, o agachamento com a cabeça entre os joelhos, a visão vidrada de um viciado quando olha o mundo ao redor. As pessoas, me desculpem, mas não as mereço. Nem seus conselhos e nem mesmo sua pena. Só quero a observância da porta que se fecha, do estilhaço da granada, e da inércia da falta total e definitiva dos sonhos...até que os olhos se fechem, a mente se feche e eu encontre o vácuo ou o fim do labirinto... Que venha o enlouquecimento que nos esvazia de tudo.

(Arut Nev)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Seu Vito


Seu Vito
é compositor de amanheceres
gosta de ver
pra crer
no infinito.


É varredor de sombras
e sempre gargalha
sobre pequenos goles de prazeres.


Oco não cai no seu corpo.
Sabe se ser
em vista de outros sopros.
É contrito aos seus quereres.


Proseador nas horas vagas
se diverte
de ver
seus dizeres
zunirem vertigens
nos olhos que o ouvem.


Tem nuvem na boca
e quando quer
alaga
alarga horizontes
botando pontes
entre as pontas das estórias.


Vê glória em coisa que cai
em coisa que vai pro
chão
alimentá-lo.


Tudo nas normalidades.
Sem estalos.


Seu Vito é um estado.
Uma sintonia fina.
Estrela pequenina
sobre a poeira do mundo.


(Joubert Antônio dos Santos)
Viçosa - MG

terça-feira, 3 de abril de 2012

Monocromático


Depois de toda essa filosofia
E toda ética, pregada às ovelhas
Por seus pastores verborrágicos:

Suspirando meu velho blues
Eu sou só mais um cidadão;
Enquanto todos os outros
Repetem o mesmo refrão

A vida é bela
Em toda a sua feiura;
E do meio do lixo
Exprime seu perfume e doçura.

A queda da cama
É só o primeiro passo;
E é preciso mais empenho
Se o objetivo está além do espaço.

Mastigue as correntes
Entre seus dentes de platina;
O sabor da liberdade
Está além daquela esquina.

No movimento incompleto
De dois corpos que se arrastam;
Os grilhões são muito leves
Pra que percebam quem os usam.

Sinta o frio devastador
Dos corações em tempo de metrônomo
Dentro das salas climatizadas.

Ouça a sinfonia em si bemol
Na marcha fúnebre pelas ruas
Celebrando o início de outra era.

Observe o brilho monocromático
De uma liberdade abortada
Em mil cores de alta definição

(Vitor Hiroshi)
Viçosa - MG

sexta-feira, 30 de março de 2012

Sonho


Sonho acordada com você
Tenho medo de dormir...
Receio que a noite me afaste
Cada vez mais de ti.

O passado me sustenta
Nesse momento de dor
Alimenta a ilusão
Que sobrou de um amor.

O desejo adormecido
Meu corpo despertou
Está vivo em meus sentidos
Porque nunca acabou.

Reviver essa emoção
É como remoçar...
Sentir viva a esperança
De, novamente, amar.

(Cátia Aparecida Lopes Nazareth)
Juiz de Fora - MG

sexta-feira, 16 de março de 2012


Ando na rua, na curva, na Lua
levo na linha, minha
tinta tanta, pintura
Mesa, cigarro e vinho
seixo rolado, mundo virado,
cabeça pequena ou vida plena em arte serena.

(Maralice Boato)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Dúvida


Na quaresma da moralidade
Sinto a sinestesia,
Domina meus corriqueiros pensamentos

Tudo na vida tem resposta?
Busco inquieto e zeloso,
Decifrar este insólito enigma
Seria mais fácil se as tuas duvidas
Fossem as minhas

Tudo na vida tem um porquê?
Qual o significado das coisas?
E com um tom herético, tu me respondes:
Pense nelas como realmente são.

(Raoni Garcia)
Ribeirão Preto - SP
Coletivo 103 - Nos Ambiente

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Anteros


Abraçaste-me com tua noite inteira,
Ou foram tuas asas?
Teu veludo?
No calor do momento difundi-me por teus braços,
Mesclando-me à tua carne.
Minha mente a estudar teus relevos,
Embriagada em teu torpor violento.
Vi teus olhos, dois pontos,
Duas estrelas a me servir de guia.
Não, duas luas imensas,
Duas musas,
Tornando-me mais poeta
A cada noite que passa.

Mike Rodrigues

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sala


O seu não estar
Feito pesadelo
Mordisca meu sono
Mastiga meu dorso
Com dentes de aço
E fome de mil
E fome de mim
Seu anticorpo

Sua ausência tem cheiro e tem forma e é incolor
E não tem voz
Não tem cor

(Marcela Lopes)
Coletivo Fórceps - Sabará/MG

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Casca

                                   Foto por: Bianca Isabel de Sá


Se bronzeia e descasca
É a casca
É a casca
A casca é pele.
A pele morena da árvore quando molha negra se torna
A pele molhada da árvore é negra
Não adianta lavar
Tá no tronco
Nos galhos
Tá na pele
Tá na raiz

O coração está de fora
Exposto
Esparso
O coração é pele
É tato que aflora
Que flora
E às vezes fruteia
Amor não dá em foia, em nota
Semeia que brota.


(Bianca Isabel de Sá)
Belo Horizonte - MG

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Como os pássaros, vai e voa minha alma


A minha alma vai,
Voa livre e leve,
Como a águia majestosa no céu.

Vai ao encontro daquele que amo.
Voa livre e solta.
Como os pássaros que estão por ai.

Minha alma que conectada a sua está,
Voa livre e leve ao encontro à sua.
Como os pombos, será que poderão viver?

Vai, minha alma vai.
Voa como os pássaros ao céu.
Conta ao meu amor a verdade.

Sai do chão, solta e leve.
Desprende das mágoas e faltas.
Voa longe, alto, no mais claro céu.

No seu silêncio se desprende.
Às vezes não voa, mas chora,
Por estar com suas asas cortadas.

Seu amor era a liberdade,
Agora cativa está.
E, será pra te amar que ela se libertará.


(Jorge Antônio F. Costa Dias)
Belo Horizonte - MG

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pelas terras de Oz


por ali, ia contando os passos.

sabia que precisava deles. um após o outro.
às vezes, preferia acelerar. correr.
outras, voltar. caminhar de novo aqueles sentidos.
e brincar com eles. dançando.

não sabia a direção. apenas a cor.
era preciso sentir para ir.
e ir. para sentir-se. ser.

pelas curvas, encontrava-se de múltiplos.

era. sem pensar.
apegara-se aos sentidos.
esquecera as racionalidades.
sentia-se. espanto.

em outros passos. escondia-se.
de si e do ciclo.
de outrora em dores.
de vida. do risco.
sentia-se. felino.

ao dançar, desengonçada.
lhe faltava por dentro.
congelara o batimento. em eco.
sentia-se. lata.

e de tantos passos, buscava.
em mágica.
e desencontrar o que estava por ali.

e só em si, era magia.
de suas fadas internas. boas e más.
de seus sapatos de sonhos. encantados.

.
.
.

era hora de deixar os tijolos amarelos para trás.

saltar do alto.
e dar ao coração.
a coragem da alma.

em liberdade.

(Amanda Oliveira)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

CONTROLE

Quem não consegue tampar o nariz
pra chegar ao fundo da piscina?
Quem não agüenta cinco segundos sem respirar
quando assusta com um encontro?
Quem não consegue reprimir o soluço
pra que ele não volte?
Ou quem não consegue prender a respiração
diante do mau hálito alheio?
Experimente piscina sem superfície.
Experimente trombar com assombração.
Experimente espasmos crônicos.
Ou experimente uma pestilência sem fim.
Experimente não ter solução.
Controle é como oxigênio.

(Artur Carneiro Mendes)
http://eununcaacho.blogspot.com/

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Samba Rio


Dos arcos da Lapa,
A ponta do arpuador
Eu vejo o sol
Eu vejo a vida
E vejo o cristo redentor.
Vejo o samba, na avenida
E a morena pulsando de amor.
Vejo o malandro de terno branco
Cantando samba sem ódio e sem dor,
Trazendo a luz do infinito 
E um ramalhete pra mulher que amou.

O samba é bom por natureza,
Foi a beleza que o homem criou,
E entre tantas maravilhas do mundo
Foi O samba que me encantou.


Ygor Sas