sexta-feira, 3 de junho de 2011

Amigo Estou Aqui

Não pretenda ter muitos amigos e nem pense que você os tem. São eles que tem você. E pense se ele largaria a gostosa do prédio que resolveu chamar ele para entrar no apê ou se ela deixaria de ouvir as imbeclidades clichê que o namorado diz. Cada um tem as suas prioridades, mas não necessariamente significa que eles nunca terão tempo para um pão de queijo e um dedinho de prosa. Aristóteles propôs certa vez que o homem faria de tudo para manter a amizade, pois o amigo é o espelho do homem, e agradá-lo significaria a satisfação pessoal. Ele não viveu o suficente para conhecer a sociedade moderna, que tem dificuldades de relacionamento. Odisseu hoje é um video-game, o monte Olímpio foi dinamitado para passar uma ferrovia e em reinos antigos, reunir exércitos era mais fácil que manter uma banda de rock.

Desisto de ter algum amigo ou amiga do peito pelo simples fato que eu não tenho uma vida igualmente fantástica para dividir. Todos tem maravilhosas histórias para contar ou um namorado dramático para reclamar. Se por um acaso você for um misantrópico não-sentimental por opção, torça para seu amigo ser um poeta simbolista. Pelo menos um amigo simbolista cultuaria o vazio e não se importaria de deitar na grama e contemplar o nada com você. Talvez suas histórias nada excitantes sobre como foi orgasmático assitir um filme cult underground paradoxal de orçamento baixo de um diretor famoso que seus filmes bons não são os mais famosos vão ser igualmente divertidas a ouvir ele dizer como o vento gelado e lua cheia são belos. Talvez um pouco de capuccino para esquentar a noite, um livro despojado sobre coisas que vocês deveriam fazer antes de morrer e um clima simpático para uma discussão interessante sobre como vocês serão bons tios para os filhos uns dos outros.

Você se preucupa com seu mundo restrito, de horizontes monocromáticos e música bossa-nova deprê de acordes diminutos, tentando fingir que não liga, mas, você mesmo assim está desesperado por ouvir sobre a viajem internacional de caráter megalomaníaco da sua amiga. Mesmo que ela não queira saber o show brutal de letras que invocam Satã através de timbres vocálicos guturais furiosos. E se um dia ela resolver te procurar e pedir um abraço apertado, você vai se derreter e impulsivamente dizer que ama ela. Dois dias depois, paralamente você vai pensar em fazer um DDD para dissertar sobre a frase anterior, para que ela brigue com você pela sua incompentência argumentativa, falta de métodos terapêuticos e o vocabulário limitado impedindo que você crie eufemismos para não destruir o pobre coração dela com a ácida realidade.

O seu coração negro, cheio de ódio não vai servir muito mesmo, já que sua amada amiga pensa que você é um imbecil e te trata como o lixo que você é, com direito as honras cívicas, hino nacional ( nacionalismo mesmo não sendo ano de copa do mundo), saraivada de sete tiros , cerveja no seu cabelo. Engraçado que ela misteriosamente não aprecia o malte da cerveja que sobrou sem você por perto. Vocês vivem numa infinita comédia de erros regada a hidromel. A comédia que também é uma tragédia, é engraçada quando seus personagens principais se atiraram do décimo terceiro andar. Se bebê Chorão sonhou com ela a noite inteira e acordou feliz, eu acordei meio true, peguei meu machado viking a arranquei a cabeça dela. Mas toquei os arpejos menores mais lindos e rápidos que conseguir antes disso, gravei-os, mixei, masterizei e uma ótima música de funeral foi tocada.

Ansiosamente espero que ela suma daqui, para que assim quem sabe ela me liga por uns vinte e quatro segundos e conversa no idioma natural dela, e lembra do presente que eu comprei a uns sete meses atrás (e inclusive descobrir que eu já tenho um embrulho novo com algo melhor dentro por que eu quebrei o anterior) e para ouvir que você ainda tem uma florzinha de um papel colorido muito feio que ela te deu no dia que você tentou deixar esse mundo cruel (espiritualmente falando já ela não deve nem ter ideia disso).

Não quero que ela se aproxime demais, sou radioativo e não tenho as minhas camadas de elétrons completas, o que me faz muito instável. Entretanto a convidarei a deitar no chão e passar os nossos elétrons para a Terra, pelo menos assim, levantaremos com uma visão positiva do mundo. Eu e a minha querida amiga vivemos em um combate infinito entre nós mas a amizade é ambivalente tipo doação de rim. Você perde um pouco de você, salva outra pessoa e vocês juntos fazem que os seus mundos sejam lugares vivos e melhores.



(Lucas Poeiras)

2 comentários:

  1. Grande Lucas,
    Muito bom seu texto.
    Curti muito.
    Abraço

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  2. Valeu a força Ygor, fico muito feliz de estar presente aqui no Percepções.

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