Sou fruto do ilógico, do irracional, do
irreal, do utópico. Sou o bagaço mastigado e atirado ao lixo. Não tenho nenhum
respeito pelo sou, pelo que penso e pelo que sinto. Sobrevivo a mim mesma,
odiando a cada olhar matinal no espelho embaçado. Quero o escuro do quarto, o
agachamento com a cabeça entre os joelhos, a visão vidrada de um viciado quando
olha o mundo ao redor. As pessoas, me desculpem, mas não as mereço. Nem
seus conselhos e nem mesmo sua pena. Só quero a observância da porta que se
fecha, do estilhaço da granada, e da inércia da falta total e definitiva dos
sonhos...até que os olhos se fechem, a mente se feche e eu encontre o vácuo ou
o fim do labirinto... Que venha o enlouquecimento que nos esvazia de tudo.
(Arut Nev)